Governo tenta reformular projetos que endurecem penas
23/11/2011
Fonte: Fenapef
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O governo quer combater a prática conhecida como inflação penal - aumentar penas para combater crimes - e iniciou um debate no Congresso para reformular os projetos de lei que vão neste sentido e propor alternativas à prisão.
Desde 1988, surgiram 2.088 propostas de mudanças na legislação penal no Congresso. A Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) analisou 100 projetos de lei nos quais os parlamentares propõem 891 formas de punição.
Entre as novas formas de penas, a prisão é o grande destaque e aparece sob várias formas. Há 309 propostas de reclusão, 199 de detenção e um caso de "prisão celular" (na qual o sujeito fica em cela individual, sem contato com outros presos). Em apenas um caso, há proposta de redução de pena.
O problema é que, na avaliação do Ministério da Justiça, prever a prisão ou aumentar a pena não está levando a uma redução nos crimes. Pelo contrário, nos casos de pequenos delitos, como furto de xampu, levar o sujeito para a prisão pode significar "matriculá-lo numa escola para o crime".
"Geralmente, a imagem que se tem é a de que o aumento de pena é suficiente para combater a sensação de impunidade e esse é um grande problema", disse o secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Marivaldo Pereira.
Para ele, a multa ou a aplicação de penas alternativas, como a prestação de serviços à comunidade, podem ser muito mais eficientes do que a prisão. "Na maioria dos casos, as propostas objetivam a criação de novas condutas penais ou aumentam a pena daquelas já existentes", lamentou Pereira. "O ideal seria aplicar a prisão para quem realmente representa ameaça à sociedade. Mas, entre as propostas que criam novas condutas penais, praticamente todas colocam a pena privativa de liberdade como punição", completou.
Há desde propostas para aumentar a pena de quem ouve um pedido de socorro e não presta auxílio até projetos de lei para tornar crime hediondo o aborto e a eutanásia. Em apenas 2% das propostas, a pena de multa aparece de modo autônomo, sem a possibilidade de prisão.
O projeto que aumenta a punição para motoristas que dirigem embriagados e pode render seis meses de prisão para quem toma um copo de chope, mesmo sem causar acidente, não entrou no estudo feito pela FGV, mas deve entrar no debate sobre a inflação de penas no Congresso.
No estudo, a FGV identificou um problema grave de desproporcionalidade das penas. Hoje, se uma pessoa pula o muro de uma casa vazia para levar algo está sujeita a oito anos de prisão por furto qualificado. Já quem fere gravemente alguém e o torna incapaz para trabalhar por até 30 anos está sujeito a pena menor, que varia de um a cinco anos de reclusão.
"O problema é que a prisão é supervalorizada", disse Maíra Rocha Machado, professora da FGV e coordenadora do estudo. Para ela, o ideal é que os juízes tivessem à disposição outras penas para aplicar. "Nós vivemos um questionamento enorme sobre o aumento de nossa população carcerária, continuamos construindo presídios e, por outro lado, a maioria dos projetos continua trazendo a ideia de mandar mais pessoas para a prisão", constatou a professora.
A FGV também verificou que a imposição de pena mínima acaba "amarrando" juízes que ficam sem alternativa a não ser a de enviar o sujeito para a cadeia. Esse problema aconteceu até no Supremo Tribunal Federal (STF), que diante de um caso de roubo de R$ 3,25 teve que mandar dois adolescentes para a prisão. Durante o julgamento, a ministra Cármen Lúcia admitiu ter dúvida quanto à aplicação da pena de cinco anos para adolescentes que não utilizaram violência no assalto e levaram quantia insignificante. O ministro Ricardo Lewandowski concordou com ela, mas admitiu que até a mais alta Corte do país não tinha alternativa. "É o mínimo para o roubo", disse Lewandowski.
"Eliminar ou reduzir a pena mínima não teria impacto para assaltos feitos com metralhadoras, que resultam em muitos feridos e fortunas roubadas. Nesses casos, os juízes colocam a pena lá em cima e pronto", afirmou Maíra. “Mas, faz toda a diferença em casos como o que foi julgado pelo STF e levou dois adolescentes para a cadeia por causa de três reais.”
O estudo da FGV foi apresentado, neste mês, aos parlamentares. Com ele, o Ministério da Justiça pretende defender a aprovação de um novo sistema de punições, alternativo às prisões. As medidas seriam: a prestação de serviços à comunidade, o pagamento de multas, a monitoração eletrônica e o aumento da fiança, entre outras.
A tarefa será difícil, pois a FGV constatou que, nas exposições de motivos dos parlamentares, os projetos que aumentam penas e criam novas prisões contêm termos de grande apelo popular, como fazer o sujeito sofrer ou "pagar o mal pelo mal". "Mas, vamos tentar convencê-los de que há meios mais eficazes e baratos para o cumprimento de penas e, neles, a chance de a pessoa rescindir no crime é muito menor", completou Pereira.
O Estado tem todo interesse em diminuir as penas de prisões para não sustentar os criminosos, mas,
ResponderExcluircomo ficam as vítimas e familiares que sofreram?. Com condenação de até 4 anos o criminoso nem
vai preso e as outras penas são divididas em 6, com todos benefícios. Se a lei afrouxar mais, vai virar
uma vergonha e a população perderá ainda mais a credibilidade nela.
Bandido tinha era que ser preso e trabalhar sob rígida disciplina.
Estão valorizando os marginais e desvalorizando a população. Como um banbido autor demais de dez crimes pode ainda ter benefícios.
ResponderExcluirNão se pode concordar com isso. A próxima vítima pode ser você.